Benedito Abbud abre Semana Acadêmica de Arquitetura e Design de Interiores

Publicado em 23 de Outubro de 2020 às 15:47

Evento reuniu alunos das sete unidades da Unipar e abordou, entre outros temas paisagismo, neuroarquitetura e neuroiluminação

Dias especiais de troca de conhecimentos. Assim foi a Semana Acadêmica Integrada dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Design de Interiores da Universidade Paranaense, realizada via Youtube. Evento reuniu alunos das sete unidades da Unipar das modalidades presencial e semipresencial.

Os estudantes participaram do tradicional concurso Charrete, neste ano de forma remota, trazendo como tema Refúgios itinerantes e flexíveis. Benedito Abbud, uma das maiores expressões da arquitetura paisagística do país, abriu o evento.

Seu escritório, montado em São Paulo, já executou mais de seis mil projetos de paisagismo no Brasil, Argentina, Uruguai e Angola, obras corporativas e residenciais, públicas e privadas. Seu livro, Criando Paisagem, está presente na bibliografia de todos os cursos de Arquitetura do Brasil.

Abbud, que ocupou o cargo de presidente da Abap (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas), abordou o tema ‘O lugar da natureza nas cidades do futuro’, versando sobre cidades biofílicas. “A sensação de natureza é fundamental, melhora, inclusive, a depressão no mundo”, destacou.

Segundo dados citados, 84% da população no Brasil vivem em cidades. “As pessoas saíram do campo e isso fez com que perdessem a conexão com a natureza, com outras pessoas e consigo próprio. Falo de natureza, sustentabilidade ambiental, social e pessoal. Hoje, essa trinca é fundamental para ter mais saúde e felicidade”, afirmou.

Ele explicou que biofilia significa conexão com a natureza, andar por percursos que a pessoa tenha surpresa: “Em arquitetura é sinônimo de beleza, variação da temperatura, presença da água, luz dinâmica, enriquecer a paisagem com luz diferenciada, formas e padrões biofílicos, utilização de materiais naturais e refúgio”.

Durante sua palestra, o convidado também mostrou o projeto que está desenvolvendo em SP – Cidade Matarazzo, área de um antigo hospital que está sendo restaurada.

Ciclo de Vida na Construção Civil

Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus de Pato Branco, o arquiteto Osmar Consoli foi um dos outros convidados da semana, para falar sobre ‘ACV - Análise de Ciclo de Vida na Construção Civil’.

“Temos que mitigar nossos impactos ambientais... Nosso sol é abundante, vivemos em um universo em que recursos naturais estão cada vez menores e nossas demandas cada vez maiores”, pontuou. E avaliou: “Não conseguimos mais fazer nossos projetos só com recursos naturais, temos que utilizar materiais recicláveis”.

O docente apresentou o cenário do ciclo de vida na construção civil e enalteceu a busca por melhorar o desempenho e a sustentabilidade ambiental dos sistemas de produção. Falou dos objetivos da ACV, organismos implicados, impactos ambientais e reversibilidade. Outros tópicos de discussão foram a ISO 14044/2006, o Tratado de Kyoto, aquecimento global e emissão de CO2.

Consoli também avaliou que é importante considerar na elaboração do projeto os condicionantes, deficiências e potencialidades. E defendeu: “Existem alguns parâmetros básicos para a construção de um edifício, como ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito”.

Ainda, enfatizou que o desenvolvimento sustentável satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.

A neurociência na Arquitetura

“Estamos sendo bombardeados por tecnologia, toda a nossa comunicação está sendo mediada pela tecnologia, que também traz problemas de saúde mental. Com ela conseguimos um grande desenvolvimento enquanto sociedade, mas vivemos seus impactos”, argumentou o arquiteto paraibano Oliveira Júnior, convidado para falar sobre ‘Neuroarquitetura’.

Para ele, que tem currículo com diversos projetos e obras premiadas e publicadas em âmbito nacional e internacional, a sociedade vive em ambientes de muita sofisticação e este é o momento de refletir, de redescobrir valores deixados para trás.

Ele lembrou que o homem vivia conectado com a natureza e, com a Era da Industrialização, ele trocou o campo pela cidade. De acordo com estudiosos da neurociência, o homem não está adaptado, ele sente a ausência daquilo que lhe era caro, o ambiente natural: “É o ser humano buscando equilíbrio com a sobrevivência”, pontuou.

E justificou: “No mundo moderno são muitas as condições que geram estresse, como o trânsito, o computador, o conflito entre pessoas, o espaço ambiental. Como esse cérebro reage diante dos condicionantes que o ambiente nos impõe? Esta é uma questão de interesse dos arquitetos”.

Oliveira Júnior também alertou sobre tendência para a arquitetura. “A produção do espaço arquitetônico e sua ligação com os contextos histórico, político e cultural indica os caminhos que arquitetura e design vão trilhar”.

Na mesma linha de pensamento, palestrou a designer de interiores e lighting designer Renata Jordão, de Maringá. Seu foco foi a ‘Neuroiluminação aplicada à Arquitetura’, área em que é especialista e autora de livro. Ela disse que foi a partir de seus estudos sobre conforto visual e conforto ambiental que surgiu a necessidade de entender o usuário e como funciona a mente humana.

“Não adianta entender a parte técnica, qual luminária uso, qual lâmpada para pé direito, qual perfil para área externa ou o índice de temperatura de cor, mas compreender que a iluminação pode trazer sensações de prazer, de descanso, de aconchego, de concentração e, ainda, diminuir a fadiga”, frisou.

Para a profissional, é imprescindível um longo diálogo com o cliente, com todos que vão conviver naquela residência, o que eles gostam de fazer, se é cozinhar ou ler livros. “A ideia é acabar com padrões, sentir e humanizar o projeto, entender cada usuário”, disse.

Processo Criativo na Arquitetura

Para abordar o tema foi convidado o arquiteto Rodrigo Rodrigues, que atuou na Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná) e foi assessor estratégico nas áreas de habitação social, políticas públicas e programas habitacionais de interesse social. Atualmente é professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná).

Durante a palestra, ele compartilhou suas experiências em escritório de Arquitetura, revelando detalhes de sua vertente de arte plástica e grafite. O profissional enfatizou que a criatividade está relacionada à questão da evolução da humanidade. “Seres criativos sempre estiverem presentes quando a humanidade subiu um degrau. Conforme as necessidades e os problemas que surgem, o ser humano acha soluções”, afirmou.

Também defendeu a importância de perceber que “o que eu vejo, você não vê... Cada indivíduo enxerga o mundo do seu ponto de vista, de como chegar a solução ideal ou quase ideal. Embora percebemos o mundo e as coisas ao nosso redor coletivamente, temos nosso universo único. Nossas experiências, capacidades e limitações. E, ainda assim, vivemos em coletividades múltiplas”.

O professor apresentou conceito de criatividade, falou de inovação ligada à tecnologia, deu dicas de como ser criativo e como organizar ideias. Também sinalizou os limitadores da criatividade, que são os condicionantes físicos, legais, técnicos e financeiros.

Iluminação e hormônios

Para fechar a semana, palestrou a arquiteta Esther Stiller, trazendo a temática ‘Iluminação Essencial – como usar a luz a favor do seu projeto’. Esther Stiller fundou em 1973, em São Paulo, o escritório que leva o seu nome.

Ela falou sobre iluminação como veículo de percepção do ambiente desenhado, como se aplica, a complexidade e essência. Também avaliou a importância de compreender o ser humano na sua integralidade: fisiologia - sentido da visão, conforto visual; psicologia – emoções/expectativas, prazer estético; e consciência – responsabilidade.

Ainda, explanou sobre projetos de iluminação arquitetônica, luminotécnica e como funcionam os nossos hormônios produzidos pelo organismo sob efeito de determinados aspectos da luz artificial e natural.

Argumentou que não existe separação entre arte e ciência da iluminação: “Ninguém vive sem o conhecimento técnico; exercemos a capacidade criativa, mas não estamos isentos das relações técnicas, teóricas e cientificas”. E acrescentou: “A ciência da iluminação é uma atividade objetiva, pois a ideia é analisar as fontes luminosas para atender necessidades fisiológicas.