Segundo a OMS, 35% das mulheres com mais de 15 anos já sofreu algum tipo de violência
O Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido pela egressa Leticia Padilha, do curso de Enfermagem da Universidade Paranaense – Unipar/Francisco Beltrão, e orientado pela docente Géssica Tuani Teixeira, no ano de 2021, foi publicado recentemente na Revista Científica da Unipar. O trabalho intitulado ‘Caracterização dos casos de violência contra a mulher em tempos de pandemia de Covid-19 em um município do Sudoeste do Paraná’ aborda a prática da violência contra a mulher, tanto por lesão interpessoal, quanto autoprovocada, ocorrida entre 2019 e meados de 2021, período da pandemia de Covid-19.
A violência contra a mulher é um grande problema em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 35% das mulheres com mais de 15 anos já sofreram algum tipo de violência praticada, na maioria das vezes, por seus parceiros. Até 15% dessas mulheres sofreram abuso sexual infantil e de 3% a 24% tiveram sua primeira relação sexual forçada na adolescência. Conforme pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2010, no Brasil 34% das mulheres já havia sofrido algum tipo de violência.
A pesquisa desenvolvida pela, agora enfermeira, Leticia Padilha, demonstra a prevalência de notificações, no ano de 2019, em mulheres com idade de 12 a 18 anos (27,2%), brancas (71,3%), com ensino médio (21,9%), sendo ainda estudantes (23,1%) ou desempregadas (17,2%), sem companheiro (52,4%), residentes da área urbana (74%), heterossexuais (50,6%), sem possuir algum tipo de deficiência (51,8%).
O que chama bastante a atenção é que a agressão com maior incidência é a lesão autoprovocada (53,6%), das quais 41,4% por meio da intoxicação/envenenamento. Quanto à violência interpessoal, notou-se que a maioria das agressões foram ocasionadas pelo próprio cônjuge da vítima (12,4%), utilizando da força física (29,3%), salienta-se que o álcool não estava presente na maior parte das agressões.
Segundo Letícia, os dados coletados não foram condizentes ao esperado, visto que nesse período, a mulher vítima de violência passou mais tempo exposta ao agressor devido às medidas de contenção à Covid-19, uma vez que os dados nacionais e internacionais apontam com clareza a autoria do crime praticado pelo parceiro e ex-parceiro, em ambiente domiciliar. Letícia ressalta, ainda, a importância do preenchimento correto das fichas de notificação, ponto importante no que diz respeito à real apresentação dos dados, de maneira geral.
No estado do Paraná, o estudo de Taveira e Colaboradores (2020) verificou que entre janeiro e setembro de 2019 ocorreram 45.683 boletins de ocorrência relacionados à violência contra a mulher. Para a orientadora do estudo, a professora Géssica, é imprescindível que pesquisas que abordem esta temática sejam realizadas e difundidas. “Assim, trazemos à tona um problema que desde a antiguidade vitima mulheres de todas as classes, idades e raças. Por fim, este estudo permitiu a identificação de uma população jovem como protagonista da violência”. Ainda de acordo com a docente, tais resultados podem contribuir com ações voltadas a este público, por vezes em ambiente escolar, discutindo temáticas que envolvam a saúde mental articuladas a estratégias de educação, além da implementação de políticas públicas que acolham estes dados e atuem na prevenção deste agravo, na melhoria do acesso e na qualificação do atendimento às vítimas.