No Brasil, em torno de 87% das mulheres sofrem algum tipo de violência em seu trabalho de parto
Uma pesquisa sobre violência obstétrica, feita por profissionais e estudantes da Unipar/Francisco Beltrão foi publicada nesta semana na Revista de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O estudo, com dados de 2019, mostra um cenário preocupante de violência obstétrica no município. A pesquisa foi realizada por meio de visitas domiciliares em uma amostra de puérperas cadastradas no programa Mãe Paranaense. O trabalho foi feito pela acadêmica Rafaela Dias da Silva e professores do curso de Enfermagem da Unipar.
O questionário foi aplicado a 157 puérperas, independente do período puerperal. Os atos de violência obstétrica foram caracterizados a partir da percepção da parturiente e constatou-se que a manobra de Kristeller ocorreu em 24% dos partos, toques vaginais frequentes em 41%, realizados por vários profissionais (32%) e a não permissão da ingestão de alimentos ou bebidas durante o trabalho de parto em 27% dos casos. Os principais atos de violência percebidos pelas puérperas foram: o contato com o bebê adiado para depois da realização de procedimentos (30%), corte imediato do cordão umbilical (29%), e afastamento do bebê sem explicações (28%). Destacando-se ainda, a exigência da posição supina durante o parto e o uso de ocitocina.
Segundo a professora e enfermeira obstetra Lediana Dalla Costa, uma das autoras do artigo científico, a pesquisa mostra que há atos violentos nos atendimentos realizados na assistência às parturientes. “Ressalta-se, assim, a importância do empoderamento feminino e a adesão às satisfatórias práticas obstétricas”.
De acordo com a professora, a violência obstétrica é definida como todas as ações que violam a assistência ao parto e ao mesmo tempo em que ferem o princípio da autonomia, por não permitir a tomada de decisão durante o processo de parturição, resultando em ações desumanizadas que prejudicam a qualidade de vida.
“A violência obstétrica viola os direitos humanos e implica diretamente no aumento da morbimortalidade materna. Caracteriza-se por maus-tratos físicos, psicológicos, verbais, além da utilização de procedimentos desnecessários que causam danos às vítimas, como episiotomias, tricotomia, ocitocina de rotina, restrição ao leito, manobra de Kristeller, privação de acompanhante, toques vaginais repetitivos, entre outros”, pontuou.