Evento realizado pela coordenação de pós-graduação lato sensu motivou interação de professores de todos os câmpus da Unipar
O ano de 2020 vem sendo marcado por uma crise sanitária mundial, com reflexos negativos também na economia. Em um momento em que a tecnologia se tornou imprescindível, enquanto veículo de comunicação e incorporação de novos modelos de negócio, a Universidade Paranaense – Unipar também aproveita desse mecanismo para difundir conhecimento.
Foi o que fez o 1º Webinar da Unipar, direcionado a empresários de todo o país, gratuitamente. Com o tema ‘Estratégias empresariais para a retomada no pós-crise’, o evento reuniu, virtualmente, palestrantes com formação e experiência na área organizacional, finanças, marketing e contabilidade. O ciclo de palestras foi ao vivo, mas o vídeo continua disponível no canal da Unipar no YouTube.
A programação incluiu seis temas emergentes, para refletir sobre o que é possível fazer para manter a saúde da empresa. Um deles, ‘Gente, fator crítico de resultados em todos os tipos e tamanhos de empresas’, foi ministrado pela psicóloga Sônia Rossi, gerente de desenvolvimento humano na Gazin.
Ela abriu o Webinar enfatizando que gente sempre foi fator crítico de sucesso e que é preciso olhar para a qualidade da equipe. Para ela, a covid-19 só acelerou processos: “O empresário terá que olhar para a sua empresa e questionar como tem feito a gestão de pessoas e o quanto se preocupa em levar a empresa para o futuro”.
Ainda, argumentou que muitas pessoas têm vontade, mas não têm práticas, comportamentos e condutas: “Vontades não vão levar sua empresa para o futuro; ações, sim... Clientes são pessoas e funcionários são pessoas; é fundamental pensar que a qualidade das pessoas que formam sua equipe é proporcional a capacidade que você tem de satisfazer seus clientes”.
A gestora defendeu que se não houver a preocupação com a qualidade da equipe, o cliente pode ter uma experiência ruim e ir embora. “O seu funcionário é a pessoa que vai te representar na frente do cliente. Pense que tipo de profissional quer que faça parte da sua equipe...Cuide do treinamento, crie cultura de feedback, elogie, celebre, agradeça e invista em desenvolver pessoas para fazer a diferença não só na empresa, mas no mundo”.
Economia e mercado: o Brasil e o mundo pós-pandemia
Este foi o tema ministrado pelo diretor da Unipar em Francisco Beltrão, professor Claudemir de Souza. Ele, que é doutor em Ciências Empresariais, compartilhou sua experiência e estudos na área de finanças, enfatizando os desafios do empresário de monitorar a situação, avaliar os riscos e se planejar para o que ele vai fazer.
O professor apresentou dados da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) do PIB no mundo. No Brasil, atestou queda de 6,9% e previsão -9,1% se vier uma segunda onda da pandemia. Também falou sobre as alternativas emplacadas no Brasil pelo governo: “O Brasil está colocando liquidez no mercado, dinheiro na mão da população para manter o consumo. Estamos com a menor inflação da história e correndo o risco de ter deflação, se não tem consumo, não tem demanda e os preços caem. Por isso, há necessidade de liberar FGTS, PIS, auxílio emergencial, medidas de preservação do emprego para evitar demissões e manter as famílias gerando consumo, que gera produção, emprego e renda”.
Todo esse contexto afetou, ainda, a Bolsa de Valores, fechamento do comércio e taxa Selic, além de causar diferentes impactos nas regiões do país e em setores selecionados – queda e aumento no volume de vendas. “O surto de coronavírus leva a Bovespa a maior queda em 10 meses, quando o país se reerguia após a reforma da previdência, tudo se encaminhava para um ano perfeito. E, paralelo à crise provocada pelo vírus, tivemos o embate entre Arábia Saudita e Rússia, pela produção de petróleo”, lembrou. E lamentou: “Desde 2014 a conta fecha no vermelho, mas este ano a expectativa é que o rombo seja superior a 500 bilhões de reais e a recessão pode ser pior do que a de 2008 e 2009”.
Ações mercadológicas para tempos de pandemia e retomada econômica
Outro convidado foi o diretor da Unipar em Cascavel, professor Gelson Uecker, consultor e especialista em marketing e mestre em Administração, que fez uma análise da importância do planejamento estratégico, de se ter visão de mercado, objetivos e metas. “Os empresários trabalham tendência, mas também é preciso trabalhar a descontinuidade, o planejamento de ficar sem internet. Conseguiríamos sobreviver?”, questionou.
Em analogia, o professor alertou que a empresa ou colaborador não pode ter a Síndrome da Avestruz - colocar a cabeça no buraco e dizer “isso não vai acontecer comigo”.
“Muitas empresas perderam seus processos de trabalho, processos ultrapassados, colaboradores não qualificados; muitas empresas perderam seus consumidores e seus mercados; muitas empresas tinham transação comercial, mas pouco relacionamento com o cliente; muitas empresas não tinham segurança financeira; muitos ‘líderes’ perderam o comando de suas empresas, deixaram seus colaboradores e sua empresa à deriva”, analisa Uecker.
Em sua fala, o professor também promoveu reflexão em termos de consumidor. Segundo considera, o consumidor reconhece uma necessidade, busca informações, pensa em alternativas e depois que usa, avalia. “Grande parte das necessidades surge da interação, ao ver sobre, mas só vemos covid. Que necessidade vai sentir o consumidor?”
Sobre o cenário atual, confirma uma nova aprendizagem e a mudança de percepção de algumas marcas e produtos, contudo, sugere que há pouca interação com o consumidor, falta envolvimento emocional.
Citando pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o palestrante apontou que 40% das pessoas que estão comprando on-line fizeram a primeira compra durante a pandemia, 50% adoraram trabalhar em casa e não querem voltar à empresa e, outra preocupação, 77% dos consumidores reduziram o consumo.
“Estamos diante de novas tendências, pessoas revendo valores, sociedade mudando hábitos e uma maior preocupação com o outro. Será necessário um esforço das empresas para as pessoas reaprenderem, não é só abrir o comércio que as coisas vão voltar por si só, não é só fabricar algo e pôr à venda, é preciso entender o que o cliente quer – entender para atender. As pessoas vão exigir mais responsabilidade social das empresas, novos modelos de negócios, novas experiências de vida, com pessoas e com a própria casa, de meditação, de artesanato, de fazer você mesmo”, pontuou
Relações de trabalho em tempos de pandemia e crise econômica
De olho na visão jurídica, a advogada Daniele Haurani discorreu sobre nuances que podem evitar o desemprego em massa e a falência das empresas. Sua fala teve como base a medida provisória 936, que prevê relaxamento das leis trabalhistas para o enfrentamento da crise. A profissional esclarece que essa medida oferece mecanismos como redução proporcional de jornada de trabalho e de salário ou suspensão contratual, suspende todas as obrigações empregado e empregador, pagamento de INSS e recolhimento de FGTS.
Sobre essa ajuda compensatória do governo, a advogada alertou: “É fundamental, seja na redução ou na suspensão, que a empresa comunique a decisão ao Ministério da Economia, para que o governo tenha o controle de pagamento do benefício ao funcionário”.
Ainda, abordou sobre estabilidade, penalidades sem justa causa durante o período de estabilidade, sindicatos patronal e laboral, prorrogação de medidas por meio de decreto presidencial para novos acordos. Outros mecanismos da medida 936 envolvem banco de horas ou antecipação de férias.
Economia 10, desperdício 0: como gerenciar os gastos da minha empresa
Palestrante na área tributária, o sócio-diretor na Comunelo Contabilidade, André Comunelo, foi outro convidado do 1º Webinar da Unipar. Para ele, o momento delicado vai passar e novas tendências vão surgir. “Se antes esses ambientes já se preparavam para transformações drásticas por causa da tecnologia, a covid acelerou o processo”, apontou.
Ele levou o espectador a pensar em como colocar a economia da empresa no topo e ter desperdício abaixo. “Devemos conhecer nossa organização, como este problema vai interferir no meu negócio, como pode ser gerenciado e como posso efetivamente ganhar mais”, orientou.
Para o contador, o primeiro equívoco das empresas é pensar que ganhará mais se aumentar as suas receitas. “O crescimento de uma organização não depende somente das suas receitas, mas também o quanto você gasta. Uma empresa pode vender muito e agradar seus clientes, mas, se seus custos ultrapassam os valores arrecadados, ele não crescerá”, afirmou.
Também destacou números: 7% das empresas fecham por falta de lucro, 20% por falta de capital e 50% dos pequenos empresários do Brasil não sabem precisar se tem lucro ou prejuízo. Diante disso, deixou alguns questionamentos: “Eu conheço o meu negócio, conheço os custos do meu negócio, sei o impacto que aquela gestão de gastos pode trazer?”.
Gestão financeira para pequenas empresas e empresários
“Pequenos negócios são os mais impactados”, afirmou o professor José Luiz Borsatto Júnior, relacionando dados recentes do Sebrae. Entre os determinantes apontados estão: porte, competitividade, disputa acirrada de mercado por preço e fator tecnologia com pouco investimento.
O professor, que é mestre em Ciências Contábeis, argumentou que se até grandes empresas, como empresas da Bolsa, precisaram de empréstimo para reforçar caixa, imagina os pequenos negócios: “Tudo parou e aquilo que não é novidade se tornou imposição de sobrevivência e não aspecto de diferenciação, o que tornou a competitividade mais desafiadora para as pequenas empresas, devido ao pouco fôlego financeiro, falta de capital de giro e falta de fluxo de caixa”.
Porém, observa que, “apesar de pequenas, elas podem ser mais ágeis, contudo, há de se considerar que neste momento estamos conhecendo este novo ambiente que está se desenhando. E esta nova realidade combina aspectos do que sabíamos, com novos hábitos e posturas empresariais”.
Relevantemente, também destacou que, a partir da pandemia, apenas 28% das empresas começaram a vender on-line, 12% começaram a fazer gerenciamento das contas da empresa, menos de 2% começaram a fazer uma tarefa que deveria ser habitual. Assim, defendeu a importância de uma empresa contábil para avaliar números, para que haja crescimento.
“Com esse suporte profissional, a empresa terá uma vantagem competitiva, que inclui planejamento, controle de caixa, conhecimento dos gastos”, disse, e provocou: “Considerando seus custos atuais, quanto seria necessário por mês para seu negócio não fechar?”.
Ainda, frisou que a reinvenção financeira é uma necessidade básica. Outro ponto crucial foi a diferenciação de lucro e caixa: “Lucro não é caixa, lucro é o resultado da minha empresa, pode ser positivo ou negativo; e caixa é o saldo de recursos que eu tenho e preciso saber como vou aplicar para fazer minha empresa funcionar, para garantir o futuro da empresa”.