O experimento está sendo conduzido por professores doutores da Unipar e UEM; primeiros resultados são promissores
Por Graça Milanez (obemdito.com)
Quando se fala em lúpulo, a primeira informação que nos vem à mente é que se trata de uma planta cultivada somente em países de clima frio e que seu ‘fruto’ é direcionado apenas para a indústria cervejeira. A resposta é não para as duas proposições.
A produção brasileira, apesar de tímida, tem mostrado que em clima tropical também é possível alcançar boa produtividade. Nas poucas áreas que cultiva, o país colhe cerca de 20 toneladas [porém importa 3,6 mil toneladas].
Seu uso tem sido requisitado, cada vez mais, também nas indústrias farmacêutica [para formulação de medicamentos que combatem ansiedade e distúrbio do sono, entre vários outros que beneficiam a nossa saúde] e de cosméticos [como sabonete, xampu e creme para combater o envelhecimento da pele].
Por todo esse potencial, e com a viabilidade técnica e econômica para o plantio confirmada por vários estudos do Ministério da Agricultura, o lúpulo, planta de alto valor econômico, vem sendo propagado como uma vantajosa alternativa para a diversificação agrícola.
Santa Catarina tem o maior percentual de produtores. O Paraná fica na 4ª posição. No sul, sudoeste e oeste do nosso Estado já existem lavouras produzindo em escala comercial.
E no calorão do nosso noroeste, de solo arenoso, há possibilidade dessa espécie herbácea vingar? A resposta pode vir de uma pesquisa científica em curso, realizada entre Universidade Paranaense e Universidade Estadual de Maringá.
Com o título ‘Avaliar a viabilidade de implantação da cultura do lúpulo na região do arenito caiuá do Paraná’, é conduzida por quatro professores doutores: Zilda Cristiani Gazim e Ana Daniela Lopes, da Unipar; e João Paulo Francisco e Max Emerson Rickli, da UEM.
Todos estão confiantes, já que os primeiros resultados surpreenderam as expectativas: “Em quatro meses de implantação já realizamos duas colheitas”, conta a professora Zilda, que coordena os trabalhos. “Tudo indica que vai se dar bem por aqui, mas temos muito ainda para examinar, dimensionar”.
Segundo ela, o objetivo maior desse estudo inédito é avaliar a produtividade, considerando o lúpulo como uma próspera oportunidade de geração de renda para a agricultura familiar, já que pode ser cultivado em uma pequena área da propriedade.
A previsão é concluir a pesquisa em quatro anos. Depois, o conhecimento gerado será difundido. “Se os resultados forem positivos, a pesquisa poderá sinalizar e motivar a estruturação de uma cadeia produtiva no noroeste; assim, a região terá mais uma opção de desenvolvimento agrícola”, afirma a pesquisadora.
Estudantes vinculados a programas de iniciação científica das duas universidades e ao mestrado e doutorado de pós-graduação em Biotecnologia aplicada à Agricultura da Unipar participam; o experimento está implantado em uma área de dois mil metros quadrados da UEM – Câmpus Regional de Umuarama.
Do campo para o caneco
O lúpulo é um dos principais ingredientes da cerveja. Das suas flores é extraída a substância que lhe dá amargor e aroma; e as que ajudam na preservação da bebida apreciada no mundo todo.
Resiliente às crises econômicas, o Brasil é o terceiro maior fabricante do mundo [perde apenas para a China e os Estados Unidos], por isso tem alta demanda do produto [importa 90% do que utiliza].
O aumento excepcional do número de cervejarias, principalmente as de conceito artesanal, está ajudando a despertar o interesse dos empreendedores rurais por esta opção de investimento.
Isso faz da expansão do cultivo no Brasil um assunto inovador e urgente. Segundo o Anuário da Cerveja, nos últimos 20 anos o mercado cervejeiro teve uma expansão superior a três mil por cento; o setor vem evoluindo também qualitativamente.
Curiosidades
O lúpulo, rico em antioxidantes, é uma planta perene, com ciclo de 15 anos; é trepadeira, com capacidade para crescer até sete metros – e suas raízes, quatro metros de profundidade.
Existem as fêmeas e machos [planta dioica]; das flores das plantas femininas é extraída a lupulina [usada na fabricação da cerveja], substância que contém resinas, proteínas, óleos essenciais, ceras, entre outros compostos.
Cultivadas mundo afora, são mais de cem variedades; os primeiros registros de produção nos levam ao século 8.
Última atualização em 2 de Maio de 2023 às 09:19