Graduação foi cursada na Unidade de Francisco Beltrão; Egresso continua estudando e buscando aperfeiçoamento profissional
Mudar de país, deixar a família, aprender um novo idioma, enfrentar toda a burocracia para regulamentar sua documentação e se inserir em uma nova cultura é um desafio para poucos. Saluhu Ibrahim, 41 anos, nascido em Gana, na África e naturalizado brasileiro, imigrou para o Brasil em 2008, procurando uma vida melhor. No início deste ano, ele se formou enfermeiro, pela Universidade Paranaense – Unipar/ Francisco Beltrão, e agora já está fazendo residência em clínica médica na Unioeste, com aulas práticas no Hospital Universitário de Cascavel, após ser aprovado em um processo seletivo. Saluhu receberá uma bolsa por dois anos para poder concluir seus estudos.
A JORNADA
Quando veio ao Brasil, o ganês desembarcou em São Paulo, onde morou por aproximadamente um ano. Durante esse período, trabalhou em um supermercado como entregador de compras e na construção civil como servente de pedreiro. Um tempo depois mudou-se para Brasília, onde conseguiu regularizar os documentos imigratórios e passou a trabalhar em um frigorífico com carteira assinada, na função de auxiliar de produção.
Do Distrito Federal, foi encaminhado pela empresa para trabalhar na sua unidade de Uberlândia (MG) e, posteriormente, transferido para a unidade de Cascavel-PR, onde também conheceu o amor da sua vida, Mariana, e algum tempo depois, finalmente transferido para Francisco Beltrão.
Em Beltrão, Saluhu trabalhou por aproximadamente 12 anos nesta mesma empresa, sendo que após três anos trabalhando como auxiliar de produção (abatedor de aves), foi promovido para o cargo de inspetor de abate, função que desempenhou até sua saída, em janeiro de 2022. “Quando cheguei em Francisco Beltrão, comecei a dar aula de inglês a um amigo chamado de Edecir. Este amigo falou da possibilidade de retornar a estudar e como já havia concluído os estudos em Gana, buscar, talvez, a validação do meu diploma. No entanto, com todas as burocracias envolvidas, não foi possível”, lamentou.
Saluhu buscou orientação no CEBEEJA, onde foi submetido a provas das matérias de ensino fundamental para poder ingressar no ensino médio. Iniciou seus estudos em 2013 e também as tentativas de ser aprovado no Enem, obtendo êxito em 2015. Após sua aprovação, convicto de que queria cursar Enfermagem, inscreveu-se através do FIES (Financiamento Estudantil) para cursar enfermagem na Fadep, em Pato Branco, no ano 2016. Ao final do mesmo ano, solicitou transferência para Unipar de Francisco Beltrão. Saluhu conta que conciliar o trabalho com os estudos nunca foi fácil, mas apesar de todas as adversidades manteve o foco, dedicação e fé. “Me considero realizado, tanto no âmbito acadêmico, formado enfermeiro e ingressando na residência, como no âmbito familiar, auxiliando financeiramente na medida possível, e ainda consegui trazer o meu irmão e meu filho para viverem comigo no Brasil. Acredite nos seus sonhos e lute por cada um deles, afinal, se você pode sonhar, pode torna-lo realidade”, comemorou o ganês.
ALUNO DEDICADO
Os professores do curso elogiaram a trajetória acadêmica de Saluhu. “Ele sempre foi um aluno que desafiava o professor a buscar mais, a aprofundar os conteúdos, porque tinha muita curiosidade e vontade de aprender. Lembro do Saluhu soletrando palavras novas em sala de aula, sempre sentado nas carteiras da frente e muito dedicado. Sempre disse a ele que ser sua professora era uma imensa alegria e que também aprendíamos muito com ele. Sua educação e respeito extremo com a figura docente e seu jeito quieto ganhou nosso carinho a ponto de comemorarmos muito sua formatura e sua conquista na residência”, destacou a professora Géssica.
A coordenadora do curso, professora Lediana, concorda. “No meu primeiro contato com Saluhu quase não conseguimos nos comunicar, pois ele ainda não dominava a língua portuguesa. Com o passar do tempo a comunicação melhorou. Ele sempre foi um acadêmico muito esforçado e respeitoso com os professores e colegas. O término do curso pelo Saluhu nos trouxe muita alegria e satisfação em ver um aluno com a história de vida dele alcançar seus objetivos e sonhos. Penso que história de vida dele deve servir de exemplo”, concluiu.