Cinthya Mara de Andrade, de Enfermagem, examinou registros de uma Regional de Saúde e, pela importância dos dados levantados para reflexão e da boa qualidade do trabalho, o trabalho ganhou as páginas de periódico
O resultado de um projeto de iniciação científica desenvolvido em 2018 pela estudante de Enfermagem da Universidade Paranaense – Unipar, Cinthya Mara de Andrade, ganha repercussão no meio acadêmico. ‘Violência interpessoal e autoprovocada: caracterização dos casos notificados em uma Regional de Saúde do Paraná’ é o título do artigo publicado neste ano pela revista ‘Cogitare Enfermagem’, da Universidade Federal do Paraná.
Em sua pesquisa, que identificou um aumento dos casos de violência, a acadêmica foi orientada pelas professoras do curso de Enfermagem da Unipar, Lediana Dalla Costa e Géssica Tuani Teixeira. “O feito está sendo comemorado, afinal ter uma publicação em periódico científico de destaque é uma grande conquista do estudante, que beneficia a sociedade pelo conhecimento produzido”, diz Lediana, que é a coordenadora do curso de Enfermagem da Unipar.
Ela também informa que, de 2013 a 2016 [anos que se concentrou no estudo] foram registrados 766 casos, com predomínio de vítimas do sexo feminino, adultas e com companheiro. Em relação aos agressores, a maioria eram homens adultos e, ainda, a grande maioria das agressões ocorridas em ambiente domiciliar, sendo as mais comuns violência física, seguida de psicológica e sexual, respectivamente.
Destaca Cyntia em seu projeto que “a violência é definida como um grave problema de saúde pública e está presente em qualquer meio social. Apesar de essência obscura, a agressão interpessoal ou autoprovocada é reconhecida como o uso da força física ou em coação, autoprovocada ou dirigida para outra pessoa que resulte em lesão, dano moral, prejuízos, privação ou morte”.
Importância das notificações
De acordo com Cinthya, a pesquisa buscou caracterizar os casos de violência interpessoal e autoprovocada por meio da análise das notificações. “A pesquisa confirma a importância das notificações e de uma assistência à saúde pautada na responsabilidade dos profissionais e, ainda, reforça a necessidade de implementação de políticas públicas e treinamento dos profissionais responsáveis pelas notificações”, pontua. Segundo ela, conhecer as características dos casos de violência regional contribui para um melhor entendimento dessas situações. “Penso que minha pesquisa pode servir de estímulo para novos estudos, considerando a importância da temática”, reflete.
Resultados
Dos 766 casos de violência e levando em consideração as características sociodemográficas, foi possível observar maior incidência de casos na população feminina: 565 (73,8%). Quanto à faixa etária, houve destaque para adultos: 322 (42%) e adolescentes: 180 (23,5%).
A raça predominante foi branca: 583 (76,1%); em relação à escolaridade da vítima, 327 (42,7%) possuíam menos que oito anos de estudo. Na variável situação conjugal, houve destaque para vítimas com companheiro: 277 (47,9%) e na variável orientação sexual, heterossexuais: 492 (64,2%); e no que tange ao local de ocorrência, vale destacar que a residência obteve um índice de 546 (71,3%), seguido de 79 em via pública (10,3%).
De acordo com Cinthya, os baixos graus de instrução estão relacionados ao aumento da incidência de casos de violência. “Em contrapartida, vítimas com maior escolaridade e poder aquisitivo tendem a buscar serviços de saúde privados e podem solicitar a omissão da informação, fato que gera as subnotificações e a distorção do real perfil de violência”, observa. E lamenta: “Temos visto no Brasil que, mesmo sendo uma obrigatoriedade de todos os prestadores de saúde notificar os casos objetivamente, nem sempre isso ocorre”.
Violência física e psicológica
Quanto ao tipo de violência, houve predomínio da violência física, seguida da psicológica: 573 (74,8%) e 304 (39,7%), respectivamente. No que diz respeito às formas de agressão, evidenciou-se que a força corporal se destacou: 429 (56%), seguida de ameaça: 146 (19,1%). Observou-se que, em 585 (50,3%) casos, os agressores não estavam alcoolizados, e no que se refere ao vínculo da vítima com o autor da violência destacou-se o cônjuge: 152 (19,8%) e o conhecido: 132 (17,2%). Dos casos notificados, 343 (44,8%) ocorreram mais de uma vez.